07 julho 2005

Finalmente... (Parte I)

De pé nesta falésia, contemplo a imensidão do céu e do oceano.
E pergunto-me porquê.
Pergunto-me se ainda tenho razões, um motivo que seja para estar aqui.
Não estou toldada pelo desespero, não. Não estou de cabeça quente, não estou desesperada como no dia em que te perdi, em que te perdi definitivamente e para sempre.
Não. Estou calma, mesmo muito calma. Esse desespero, essas lágrimas quentes de raiva e frustração, cristalizaram nesta calma, nesta quase indiferença gélida e determinada. Perder-te, foi perder tudo...
Antes de te conhecer eu não tinha nada, não tinha ninguém. Mas isso não me incomodava, porque eu não sabia o que era ter alguém. Não sabia o que era ser-se amada, apoiada e acarinhada. Não sabia o que era gostar de alguém, gostar mais do que gostamos de nós próprios. Não sabia o que era ter alguém do meu lado, sempre. A apoiar-me, a proteger-me. Querendo ficar comigo, ajudar-me com os meus problemas, enfrentar tudo comigo e por mim. Só sabia o que era estar sozinha.
E depois tu apareceste.
E mudaste tudo.
Não foi fácil conquistar-me, eu sei. Eu tinha medo, medo daquele sentimento tão forte que estava a nascer em mim, medo de tudo o que estava a irromper na minha alma, no meu coração, sem avisar nem pedir licença. Não sabia o que era aquilo, não sabia o que era amor. E como não sabia, como nunca tinha provado o travo doce e amargo desse sentimento, não lhe sentia a falta. Sentia-me bem assim, sem saber que as coisas podiam ser diferentes, que tudo podia ser de outra maneira. Sobrevivia, sem saber como é bom viver.
Até que cedi.
Até que me rendi àquela força imensa que invadira o meu coração e que me dominava, que me arrastava, que me prendia a ti.
Até que soube como era bom estar contigo, como era bom ouvir a tua voz, sentir o teu calor, ter o teu carinho.
E aí tudo mudou...
Deixei-me arrastar pela vertigem dos sentimentos, das emoções, das sensações. Descobri o amor, o carinho, a paixão. O ciúme, o medo, a possessividade. E, mais do que tudo isso, descobri a segurança. Descobri o que era sentir-me segura, segura do teu amor, segura do teu carinho. Segura para além de todos os ciúmes e medos. Segura.
Segura enquanto me abraçavas, carinhoso e terno.
Segura enquanto me beijavas e dizias que me amavas.
Segura enquanto me arrancavas aos meus medos e pesadelos, ao inferno em que vivo.
Segura.
E é por isso que hoje olho este imenso céu azul e pergunto porquê.
Porquê?
Porquê, por que é foi assim?

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