27 março 2005

Saio

Deixo o teu corpo deitado
Levanto-me, saio para a rua.
Atrás de mim, o teu corpo abandonado
Lembra-me os momentos em que fui tua.


Saio devagar, saio lentamente,
Saio com vontade de para trás voltar.
Saio para a rua com o corpo dormente,
Dorido da noite passada a te amar.

Saio com tristeza no coração,
Saio sem vontade de sair.
Saio e deixo-te o meu coração,
Saio quase me obrigando a fugir.

Saio. Não quero sair mas saio.
Deixo o teu corpo em liberdade.
Ao deixar o quarto, tropeço e caio...
Não quero deixar-te, essa é a verdade.

Mesmo assim saio. Saio como tenho de sair.
Saio, deixo-te entregue a ti.
Saio, bem sei que tenho de partir,
Saio mas hei-de voltar aqui.

Saio. Tu és livre, também eu o sou,
E deixando-te livre vou sair.
Saio para a solidão que já me cansou,
Saio e deixo-te a dormir.

Saio e o silêncio te deixo,
Nele nunca te sentes em solidão.
Saio. Saio e não me queixo,
Não me queixo do vazio no meu coração.

Saio. Saio para não te prender,
Para te deixar livre para outra paixão.
Saio. Saio para não te perder,
Ninguém pode ser dono do teu coração...

Saio. Saio sem me preocupar com a dor,
Saio sem sequer olhar para trás.
Saio. Abandono aqui o meu amor.
Saio e não mais voltarei atrás.


Deixo o teu corpo deitado
E saio de lágrimas coberta.
Atrás de mim, o teu corpo abandonado...
Saio, e deixo a porta aberta.

8 comentários:

Daniel Cardoso disse...

Mas a promessa de voltares acabará por trazer alegria renovada até ao dia em que não mais precisares de sair.

Prometeu

Sophia disse...

Lamento informar-te, Prometeu, mas desta vez foste tu que não percebeste nada do texto... Ela acaba dizendo que não vai voltar, ela sai porque embora não queira, sabe que é isso que tem de fazer.Ela sai para o deixar ser livre como ele quer. Percebeste agora?

Daniel Cardoso disse...

Eu percebi isso. Mas o sujeito poético demonstra bem a indefinição a este respeito quando diz "mas hei-de voltar". E isso demonstra também que eventualmente poderá voltar, não para se fixar ou para lhe roubar a liberdade, mas sim para voltar. Até porque há muitas formas de ser livre.

Prometeu

Sophia disse...

Sim, ela diz isso, mas diz isso a meio do texto. E se reparares, Prometeu, é a partir daí que se verifica uma certa mudança na atitude dela, é a partir daí que ela percebe que, queira ou não, tem de o deixar, até para não o perder. Mas esta é só a minha interpretação, e como acho que quantas mais interpretações for possível dar a um texto melhor ele é, agradeço-te teres exposto a tua. Continua a mostrar-me outras perspectivas no que escrevo! ;)

Anónimo disse...

excelente...está um pouco diferente do que me habituaste, axo k está(nao te ofendas lol)mais maduro.n sei explicar, ta mt fixe,pq da mm pa sentir akilo que e das coisas mais dificeis...deixar ir o que se ama..

Sophia disse...

É, tens razão, é difícil libertar quem se ama. Mas quando a escolha é entre deixar partir e perder, liberta-se. Sempre. Porque quanto mais se tenta amarrar alguém, mais vontade a pessoa tem de fugir. Eu sei-o. Por experiência própria.

Anónimo disse...

concordo com isso...se amas tens de deixar partir...mas axo que o amor torna o coraçao egoista...nao e facil..

Sophia disse...

Não é egoísmo, é necessidade total da outra pessoa, é dependência. Mas tens razão, Ticha, é a maior prova de amor que se pode dar a alguém. Espero conseguir fazê-lo...