26 março 2005

À espera... (parte I)

Mar.
Amar.
São parecidas, as duas palavras, não são?
O que quererá isto dizer?
O amor veio do mar?
Ou foi o mar que nasceu do amor?

Eu amo o mar. Sempre.
Amo esta imensidão salgada, esta eternidade azul que se estende até se perder de vista.
Amo-o na sua calma e na sua fúria, amo a sua doce espuma que se enrola na areia e as suas ondas que rebentam com fragor e estrépito nos rochedos, amo o seu brilho dourado que reflecte o sol e a sua profundidade cinzenta que adivinha borrasca, amo-o tranquilo e pacífico no Verão e rebelde e tempestuoso no Inverno.
Amo-o como te amo a ti, misterioso sedutor que me conquistaste o coração.
Foi aqui que te vi pela primeira vez. Estava sentada nesta esplanada com um caderno à frente, tal como hoje. E tu passaste aqui no paredão, paraste naquele banco além. Algo na tua forma de andar me chamou a atenção. Caminhavas como se o mundo pesasse sobre ti, os ombros meio curvados, o passo meio arrastado. Mas a cabeça continuava erguida, e embora o teu olhar perdido mostrasse sofrimento, a sensação que tive quando olhei para ti foi que eras um daqueles, cada vez mais raros, que preferem morrer a ceder, a render-se, que eras um daqueles de “antes quebrar do que torcer”.
Parei de escrever e fiquei a olhar-te, sentado no banco com a cabeça apoiada nas mãos, olhando o mar. Algo em ti me atraía, me seduzia. E eu acabei por perceber o que. Era essa mistura de orgulho e humilhação, de altivez e humildade, de força e fraqueza, de coragem e desespero. Tudo isso se espelhava em ti, no teu olhar, na tua forma de andar, na posição da tua cabeça, no abandono do teu corpo. E eu fiquei a olhar para ti.
Daí a pouco levantaste-te, foste embora. Fiquei a seguir-te com o olhar, sem te conhecer, sem saber sequer o teu nome mas querendo ajudar-te.


Este é o meu pouso habitual, portanto daí a dias estava de novo aqui, em frente ao mar, aproveitando o dia solarengo com um sumo na mão. Como de costume, os meus olhos vagueavam pelas pessoas que passeavam por ali, mas não se detinham em nenhuma. Sem saber porquê, procurava-te.
E encontrei-te. Tal como da primeira vez, passaste por mim com o mesmo ar preocupado mas resoluto. Não paraste, mas quando, mais tarde, também eu fui andar pelo paredão, voltei a encontrar-te. Vi-te ainda ao longe, de novo sentado mas já não olhando o mar. A cabeça mergulhada nas mãos, os ombros descaídos, eras a perfeita imagem do desespero naquele dia tão bonito.
Parei.
Hesitei.
Decidi-me.
Avancei, sentei-me ao teu lado. Sentiste-me, olhaste para mim, meti conversa. Tentei ajudar-te.

Voltámos a encontrar-nos uma, duas, tantas vezes! Nunca me contaste exactamente quais eram os teus problemas, muitas vezes interrompias a conversa e ficavas com o olhar perdido no mar, o mar que ambos amamos. Mantinhas o mistério que te envolvia, conservavas na penumbra a tua vida, a tua maneira de ser. Não dizias o que é que te preocupava, o que é que provocava esse desespero que te envolvia e que tu procuravas combater, não confessavas o que é que ensombrava o teu olhar.
O teu olhar... Os teus olhos claros e mutáveis como o mar, azul brilhante quando conseguias afastar os teus problemas por um momento que fosse, cinzento sombrio quando eles voltavam, em vagas como o mar, a rodear-te, a envolver-te, a ensombrar-te. Foram eles que me conquistaram, esses olhos que mostravam e escondiam, que revelavam e ocultavam, esses olhos em que me conseguia perder, esses olhos que são como as profundezas do mar, misteriosos, sedutores, apaixonantes.
Sim, eu acabei por me apaixonar por ti. Mesmo sem querer, mesmo sem tu quereres. Tu és tão sedutor, tão envolvente! Inconscientemente, eu sei. Não era por quereres, mas essa tua segurança, essa tua confiança, a tua altivez, o teu orgulho... o teu mistério, tudo isso me atraía, tudo isso me envolvia e me ia prendendo a ti sem eu saber bem como.
E tu? Também te apaixonaste por mim? Acho que sim. Nunca o puseste em palavras, mas havia gestos, olhares, afastamentos... Houve frases, mesmo, quando tu me dizias que tinhas de ir embora, que não podias ficar... Quando pousavas as mãos nos meus ombros e dizias que não podias gostar de ninguém, que não te podias aproximar de ninguém, que não podias ser (e aí hesitavas, a voz vacilava) amigo de ninguém. E eu percebia que também tu estavas a ficar envolvido, que também tu estavas a ficar preso.

5 comentários:

Daniel Cardoso disse...

Tu sabes que eu ADORO este texto. Cheio de emoção, de desejos e de sonhos... Quero o resto... (Apesar de já o ter lido, hehe).

Prometeu

Sophia disse...

Assim não vale, não podes andar a dizer que já leste, senão vão pensar que faço diferença!!! Amanhã ou depois ficas com o resto, deixa lá. ;)
E também hão de vir coisas que tu não conheces, que neste momento até são bastantes! ;P

Anónimo disse...

como sabes, um dos meus favoritos(sabes que adoro estes,enfim...é o meu lado romantico a manifestar-se)mas sabes que há um outro...

Anónimo disse...

bolas eu nao entendo nada desta coisa, no outro coment apareceu o meu nome e neste nao pq?agora vais pensar que tens mais coment do que akeles k realmente tens!! :p

catarina

Sophia disse...

Este sempre foi um dos teus favoritos, eu sei, mas não estou a ver qual é o outro de que estás a falar...
E não te preocupes, eu não fico convencida por receber um comentário a mais! ;)