Fecho a porta com cuidado, para não acordar o menino. E agora a minha expressão retoma o ar cansado, desiludido, que tantas vezes já tomou nos últimos tempos. Porque o nosso filho já tem um ano e a tua atitude continua igual. Ao início mal notei, depois pensei que havias de mudar com o tempo... Sabia que nunca tinhas querido filhos, mas tinhas insistido tanto... Pensei que tinhas mudado, pensei que também em ti nascera a vontade de ter um filho, uma criança nossa, um fruto do nosso amor, alguém teu e meu, alguém que mostrasse na verdade como nós dois éramos um só...
Enganei-me.
Se algum dia quiseste esta criança, foi por mim, só para me agradar, para realizar aquilo que sabes ser um sonho antigo. Tu nunca o quiseste, nunca.
E eu descubro isso agora de forma cruel...
Entro, passo ante passo, no escritório em que, como sempre, estás sentado ao computador, a escrever, sempre a escrever. Compreendo isso, também eu o adoro fazer. E adoro ler o que tu escreves. Sempre adorei, continuo a adorar.
Aproximo-me devagar, dividida entre o amor que é uma força tremenda a ligar-me a ti e o desgosto, a desilusão, a quase raiva de te sentir indiferente ao nosso filho.
Tu pressentes-me, como tantas outras vezes, e viras-te sorrindo, o teu sorriso tão doce e terno. Levantas-te, abraças-me, acaricias suavemente os meus cabelos enquanto eu me encosto a ti, ansiando pela sensação de abstracção e felicidade que vem sempre quando estou nos teus braços...
Não desta vez.
E percebo isso quando me tentas beijar e me sinto indiferente, indiferente ao calor da tua boca, à doçura que escorre dos teus lábios acariciantes. E quando o percebo não tenho forças para fingir... Sentindo a minha frieza, interrompes o beijo, olhas-me com aquele teu olhar penetrante. E de repente eu solto-me dos teus braços e corro para junto do nosso filho... Não, do meu filho. Tu nunca brincaste com ele, nunca lhe fizeste uma carícia, nunca lhe deste um dos teus sorrisos ardentes de amor. Tu não o amas. Não o queres para ti. E se tu não o queres para ti, então... então eu também não te quero para mim... Não posso querer...
Enganei-me.
Se algum dia quiseste esta criança, foi por mim, só para me agradar, para realizar aquilo que sabes ser um sonho antigo. Tu nunca o quiseste, nunca.
E eu descubro isso agora de forma cruel...
Entro, passo ante passo, no escritório em que, como sempre, estás sentado ao computador, a escrever, sempre a escrever. Compreendo isso, também eu o adoro fazer. E adoro ler o que tu escreves. Sempre adorei, continuo a adorar.
Aproximo-me devagar, dividida entre o amor que é uma força tremenda a ligar-me a ti e o desgosto, a desilusão, a quase raiva de te sentir indiferente ao nosso filho.
Tu pressentes-me, como tantas outras vezes, e viras-te sorrindo, o teu sorriso tão doce e terno. Levantas-te, abraças-me, acaricias suavemente os meus cabelos enquanto eu me encosto a ti, ansiando pela sensação de abstracção e felicidade que vem sempre quando estou nos teus braços...
Não desta vez.
E percebo isso quando me tentas beijar e me sinto indiferente, indiferente ao calor da tua boca, à doçura que escorre dos teus lábios acariciantes. E quando o percebo não tenho forças para fingir... Sentindo a minha frieza, interrompes o beijo, olhas-me com aquele teu olhar penetrante. E de repente eu solto-me dos teus braços e corro para junto do nosso filho... Não, do meu filho. Tu nunca brincaste com ele, nunca lhe fizeste uma carícia, nunca lhe deste um dos teus sorrisos ardentes de amor. Tu não o amas. Não o queres para ti. E se tu não o queres para ti, então... então eu também não te quero para mim... Não posso querer...
Noite alta.
Dormes, um sorriso nos teus lábios depois destes momentos de amor. Os últimos... A minha despedida. A despedida que tentará matar o sabor a cinzas que tenho na boca e que, bem o sei, não fará nada além de o aumentar...
Pego no nosso filho, no seu corpo doce que se abandona nos meus braços. Olho uma vez mais o seu sorriso, tão igual ao teu, tão igual como os seus olhos que sei castanhos e ternos como os teus. Sufoco um soluço, engulo as lágrimas. É por ele que faço isto...
Saio sem bater com a porta. Sobre a cama, na almofada ao teu lado, na almofada para sempre vazia de mim, fica um bilhete, um curto bilhete.
Dormes, um sorriso nos teus lábios depois destes momentos de amor. Os últimos... A minha despedida. A despedida que tentará matar o sabor a cinzas que tenho na boca e que, bem o sei, não fará nada além de o aumentar...
Pego no nosso filho, no seu corpo doce que se abandona nos meus braços. Olho uma vez mais o seu sorriso, tão igual ao teu, tão igual como os seus olhos que sei castanhos e ternos como os teus. Sufoco um soluço, engulo as lágrimas. É por ele que faço isto...
Saio sem bater com a porta. Sobre a cama, na almofada ao teu lado, na almofada para sempre vazia de mim, fica um bilhete, um curto bilhete.
Acordo e procuro pelo corpo dela... Não está lá.
Abro os olhos, senti um papel... Leio:
"Tu não queres o nosso filho. E eu, que sei como tu o que dói crescer sem amor, num turbilhão em que nos sentimos abandonados, não vou deixar que o meu filho sinta isso. Adeus. Amar-te-ei para sempre..."
Olho para o papel, não percebo nada...
Abro os olhos, senti um papel... Leio:
"Tu não queres o nosso filho. E eu, que sei como tu o que dói crescer sem amor, num turbilhão em que nos sentimos abandonados, não vou deixar que o meu filho sinta isso. Adeus. Amar-te-ei para sempre..."
Olho para o papel, não percebo nada...
2 comentários:
...
Eu avisei que não era para fazer filmes...
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