"Levantei-me do sofá, fui até à janela. Amanhece. Amanhece depois desta noite de solidão... Nem sei há quantos dias não apareces, há quantos dias foges aos meus telefonemas, às mensagens que te deixo no gravador, aos sms que te mando para o telemóvel... Nem na net te consigo encontrar, nem no msn. Embora online, estás sempre ausente. Há meses que é assim... Pelo menos para mim... Mas talvez não para ela?...
O que é que se passa? Porque é que não és franco comigo, porque é que não me dizes simplesmente que acabou? Tens medo? Da minha reacção, do meu sofrimento, de que eu faça alguma parvoíce? Caramba, sempre te pedi sinceridade! Fala comigo, diz de uma vez que deixaste de gostar de mim, diz de uma vez que agora é ela a dona do teu coração, esse coração que eu tanto quis mas que nunca me pertenceu! Diz, fala! Não te cales, não fujas, não tenhas pena de mim! Pensaste alguma vez que eu me ia contentar com isso depois de tudo o que tive? Pena não chega, quando se sabe o que é paixão, paixão louca, paixão que incendeia os corpos. E foi isso que nós tivemos! Apenas e só isso...
Como eu queria que tivesse sido diferente! Como eu quis, como eu tentei seduzir-te, prender-te à minha alma e não apenas ao meu corpo, este corpo em que ninguém ainda reparara, este corpo que foi teu e que agora pareces disposto a abandonar...
O que é que ela tem a mais que eu? O que é que ela é mais do que eu? Faz tudo por ti? Ama-te? Também eu! Também eu te amei e fiz tudo por ti, deixei tudo, esqueci que tinha vida! E agora, anos depois, quando já só vivo por ti e para ti, deitas-me fora como um brinquedo de que já não gostas, deitas-me fora sem uma única palavra sequer...
Errei, eu? Em quê? Se sempre fiz tudo por ti, o que tens para me apontar? Só se for isso mesmo, este meu amor infinito, este amor que eu sempre procurei conter mas que acabava por surgir em explosões de ciúme... Este amor que nunca retribuiste, este amor que nunca foi nosso, mas só e apenas meu... Este amor que nunca o foi, pois amor só é amor quando vem dos dois lados...
Não tens coragem sequer para me olhar, não é? Vou facilitar-te o trabalho: aqui fica esta carta, este mísero papel sobre a mesa, estas letras que nunca lerás. Adeus. Vou para a missão que me propuseram e que quase rejeitei por ti. E lá, ajudando crianças famélicas, esquecer-te-ei. Esquecerei este simulacro de amor que me fez abandonar o resto do mundo e que em troca me deu apenas abandono e sofrimento. Adeus."
O que é que se passa? Porque é que não és franco comigo, porque é que não me dizes simplesmente que acabou? Tens medo? Da minha reacção, do meu sofrimento, de que eu faça alguma parvoíce? Caramba, sempre te pedi sinceridade! Fala comigo, diz de uma vez que deixaste de gostar de mim, diz de uma vez que agora é ela a dona do teu coração, esse coração que eu tanto quis mas que nunca me pertenceu! Diz, fala! Não te cales, não fujas, não tenhas pena de mim! Pensaste alguma vez que eu me ia contentar com isso depois de tudo o que tive? Pena não chega, quando se sabe o que é paixão, paixão louca, paixão que incendeia os corpos. E foi isso que nós tivemos! Apenas e só isso...
Como eu queria que tivesse sido diferente! Como eu quis, como eu tentei seduzir-te, prender-te à minha alma e não apenas ao meu corpo, este corpo em que ninguém ainda reparara, este corpo que foi teu e que agora pareces disposto a abandonar...
O que é que ela tem a mais que eu? O que é que ela é mais do que eu? Faz tudo por ti? Ama-te? Também eu! Também eu te amei e fiz tudo por ti, deixei tudo, esqueci que tinha vida! E agora, anos depois, quando já só vivo por ti e para ti, deitas-me fora como um brinquedo de que já não gostas, deitas-me fora sem uma única palavra sequer...
Errei, eu? Em quê? Se sempre fiz tudo por ti, o que tens para me apontar? Só se for isso mesmo, este meu amor infinito, este amor que eu sempre procurei conter mas que acabava por surgir em explosões de ciúme... Este amor que nunca retribuiste, este amor que nunca foi nosso, mas só e apenas meu... Este amor que nunca o foi, pois amor só é amor quando vem dos dois lados...
Não tens coragem sequer para me olhar, não é? Vou facilitar-te o trabalho: aqui fica esta carta, este mísero papel sobre a mesa, estas letras que nunca lerás. Adeus. Vou para a missão que me propuseram e que quase rejeitei por ti. E lá, ajudando crianças famélicas, esquecer-te-ei. Esquecerei este simulacro de amor que me fez abandonar o resto do mundo e que em troca me deu apenas abandono e sofrimento. Adeus."
Ele leu a carta e deixou-se cair no sofá, as mãos apertando a cabeça, tentando controlar um daqueles súbitos e terríveis acessos de mal-estar que lhe aconteciam há semanas... Descobrira hoje porquê. Um cancro que lhe corroía as entranhas. E quando, desesperado, correra para junto dela, descobrira que ela se cansara, que partira. E, sobretudo, que partira julgando que ele não a amava... Tudo mal, ela entendera tudo mal... Amaldiçoada sede de independência que o fizera afastar-se, enfeitiçado pelo olhar felino da outra... e que o fazia agora perder quem realmente amava...
E agora? A que se agarrar, para quê lutar? Onde arranjaria forças para lutar contra a doença que, o médico fora claro, estava já em estado avançado?
Deixando-se escorregar para o chão, ele chorou. E amaldiçoou uma vez mais a sedução da outra, a sua própria inconsciência, a sua ânsia de liberdade... Não, a sua sede de sexo. Reconhecia, tinha de reconhecer pelo menos a si próprio, que o atraíra na outra fora aquele corpo envolvente e capitoso, estonteante, ardente. E por isso perdera o seu amor...
Louco, que louco que fora...
E agora? A que se agarrar, para quê lutar? Onde arranjaria forças para lutar contra a doença que, o médico fora claro, estava já em estado avançado?
Deixando-se escorregar para o chão, ele chorou. E amaldiçoou uma vez mais a sedução da outra, a sua própria inconsciência, a sua ânsia de liberdade... Não, a sua sede de sexo. Reconhecia, tinha de reconhecer pelo menos a si próprio, que o atraíra na outra fora aquele corpo envolvente e capitoso, estonteante, ardente. E por isso perdera o seu amor...
Louco, que louco que fora...
6 comentários:
Por isso é que a exclusividade pode levar a coisas realmente incompreensíveis...
Prometeu
tá muito bonito sophia,sabes que eu adoro quando escreves assim, mas no entanto isto é algo que nos espereamos que nunca nos venha a acontecer...é um texto muito dramatico...gostei mt
Às vezes a não exclusividade dói demais...
Nada dói mais do que perder a pessoa que se ama.
Não, nisso tens razão, Prometeu. Mas às vezes a não exclusividade pode-se assemelhar demasiado a isso. É o que acontece neste texto: ele esqueceu-se dela, evitou-a durante meses... e depois, quando teve um problema, correu para o colo dela...
Às vezes é preciso sofrer para saber o que se fez de mal e para perceber certas coisas. E a impossibilidade de emendarmos os actos errados apenas cria frustração eterna.
Prometeu
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